quinta-feira, 25 de março de 2010

A dupla hélice foi apresentada ao mundo há 50 anos(ADN)


As primeiras palavras de um dos artigos publicados na edição de 25 de Abril de 1953 da revista "Nature" entraram para a história como um dos mais discretos anúncios de uma importante descoberta científica: "Queremos sugerir uma estrutura para os sais de ácido desoxirribonucleico (ADN). Esta estrutura tem características novas que são de considerável interesse biológico", escreveram James Watson e Francis Crick. Passados 50 anos, a descoberta da molécula em forma de dupla hélice é considerada uma das mais importantes do século XX, se não a mais significativa. Mas, na altura, não teve propriamente um impacte arrasador. A descoberta de que o ADN era o material da herança genética, aquilo de que são feitos os genes, tinha sido feita em 1944, por Oswald Avery, Maclyn McCarty e Colin MacLeod, do Instituto Rockefeller, em Nova Iorque. Estes três investigadores demonstraram que a virulência de uma estirpe de "Pneumococcus" (bactérias que causam pneumonia) podia ser passada para uma bactéria não infecciosa transferindo simplesmente ADN de uma para a outra.

No entanto, o seu trabalho não teve grande repercussão porque o ADN era considerado uma molécula pouco interessante: "As nossas descobertas tiveram pouco aceitação por vários motivos, mas a mais significativa era a de que o trabalho feito sobre a composição do ADN, desde a sua identificação, 75 anos antes, tinha concluído que o ADN tinha uma diversidade tão limitada que não poderia transmitir informação genética", escreveu Maclyn McCarty recentemente na revista "Nature" (há um "dossier" sobre os 50 anos do ADN disponível na Internet, no endereço http//www.nature.com/nature/dna50 ). As proteínas eram consideradas moléculas muito mais interessantes e variadas, com maior potencial de se virem a revelar as transmissoras do código da vida. Essa opinião não era unânime mas, mesmo uma década depois, em 1953, fez com que a descoberta de Watson e Crick fosse encarada com algum cepticismo. Até Watson e Crick se mantinham reservados, pois faltavam-lhes provas de como o ADN comunicava com o resto da célula, para transmitir instruções para a produção de proteínas - os constituintes básicos de todos os organismos, como os tijolos que fazem uma casa. "Um material genético deve cumprir duas funções. Deve ser capaz de fazer cópias de si próprio e tem de exercer uma função altamente específica sobre a célula. O nosso modelo sugere um mecanismo simples para o primeiro, mas de momento não vemos como possa satisfazer o segundo requisito", afirmou Watson, num seminário realizado no Laboratório de Cold Spring Harbor, nos EUA, em 1953. A compreensão do papel do ARN (o ácido ribonucleico) como molécula intermediária entre o ADN e as restantes estruturas da célula tem sido matéria de estudo durante todos estes anos, e continua ainda a surpreender os cientistas. Há mesmo quem acredite que a vida teve origem com o ARN, uma molécula capaz de se copiar a si própria. Mas, durante estes 50 anos, a dupla hélice do ADN assumiu um papel cada vez mais importante na nossa sociedade. Os mecanismos da hereditariedade estão por trás dos avanços mais fantásticos e das polémicas mais aguerridas de hoje - dos organismos geneticamente modificados à clonagem. Além disso, o ADN tornou-se um ícone da cultura popular: é com certeza a molécula mais fotogénica de sempre.

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