quinta-feira, 25 de março de 2010

Química: Britânicos recriam o ARN primitivo


Há uma molécula que, hoje em dia, serve para funções ‘subalternas’ nas células – o ARN (ácido ribonucleico), uma espécie de primo pobre do ADN (ácido desoxirribonucleico), mais instável que este. Actualmente, serve, por exemplo, para transportar a informação contida no ADN, localizado no núcleo da célula, até às fábricas de proteínas, posicionadas fora do núcleo. Mas, ao que parece, essa importância esteve invertida na origem da vida na Terra, há perto de 4000 milhões de anos, um fenómeno que intriga os cientistas há séculos. É que os investigadores observaram que, em certas circunstâncias, o ARN pode fazer mais do que ser transportador de informação genética. Por vezes, também pode agir directamente no metabolismo, ‘actuando’ de forma semelhante às proteínas, uma estratégia mais simples para o início da vida: tudo teria começado com o ARN trabalhando como um operário especializado em tudo. Recriar a vida em laboratório é um dos maiores desafios da Ciência. Agora, através de trabalhos de síntese química em laboratório, John Sutherland e a sua equipa da Universidade de Manchester, no Reino Unido, descobriram uma possível pista de como o ARN pôde aparecer sem a ajuda de enzimas, graças aos raios ultravioleta e ao fosfato. Estes investigadores utilizaram moléculas presentes na Terra primitiva e provocaram reacções químicas em modelos de ambientes geológicos como os que existiram nos primeiros tempos, conseguindo demonstrar a síntese espontânea em laboratório. Estes cientistas britânicos, ao trabalhar a sequência de reacções básicas, montaram o palco para investigações futuras a respeito dos cenários geoquímicos compatíveis com a origem da vida, um trabalho que abre novas direcções para pesquisa, que permanecerão por anos como um dos grandes avanços na química pré-biótica.

DEBATE ÉTICO

Para Paula Martinho da Silva, do Conselho para as Ciências da Vida, "estas novas questões vão ocupar as agendas do debate ético nos próximos anos, como está já a acontecer com o Grupo Europeu de Ética na Ciência e Novas Tecnologias da Comissão Europeia que está a elaborar um parecer sobre a ‘Ética da Biologia Sintética’.

ADN E ARN NA BASE DA HEREDITARIEDADE

Os ácidos nucleicos são as moléculas que regem a actividade da matéria viva. Os dois tipos, denominados ADN (ácido desoxirribonucleico) e ARN (ácido ribonucleico), constituem a base da hereditariedade.

ADN

Molécula complexa que desempenha uma função dupla: para além de conter uma informação codificada que dá à célula instruções sobre a maneira como construir todas as enzimas e outras proteínas necessárias para executar as complexas reacções da vida, ela passa também esta informação a gerações sucessivas em praticamente todos os organismos vivos. O ADN tem uma estrutura de uma hélice dupla, que consiste em dois filamentos; cada um deles é uma sequência alternada de moléculas de açúcar (desoxirribose) e de fosfato, a partir das quais se projectam as bases de azoto (T-timina, A-adenina, C-citosina ou G-guanina).

ARN

O ácido ribonucleico é uma molécula também formada por um açúcar (ribose), um grupo fosfato e uma de quatro bases (U-uracilo, A-adenina, C-citosina ou G-guanina) envolvido na síntese das proteínas. Possui normalmente uma cadeia simples, ao contrário do ADN. Os diferentes tipos de ARN compreendem o ARN mensageiro, que transporta a informação do ADN do núcleo para outras partes da célula, dirigindo a síntese das proteínas, o ARN de transferência, que transporta as subunidades básicas das proteínas, os aminoácidos, para os locais onde tem lugar a síntese das proteínas, e o ARN ribossómico, que dirige a síntese das proteínas e perfaz mais de metade da massa dos ribossomas.

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